Entrevista: Raf Tag

Cá estamos, um mês depois de ser feita a entrevista, ela é publicada, mas não há crise. Esperamos 9 meses nas barrigas das mães pra nascer, Hip-Hop demorou + de 30 anos pra chegar a esse ponto, a humanidade precisou de uns tantos bilhões de anos para atingir esse nível (de coisas boas e más), portanto, 1 mês não é nada!!!

Essa entrevista foi feita num Sábado, dia 6 de Julho de 2002 no prédio do próprio Raf Tag. Cheguei (Mário Pinho) no kubiko do Raf Tag por volta das 16h30 e encontrei-o nas escadas com acompanhado de Bob Da Rage Sense (já li esse nome em algum sítio, não sei onde), Tony , e Armadura Humana. Depois de umas conversas, por volta das 17h50 começamos com a dita entrevista. Não liguem se escapou alguma coisa e ela parece pouco profissional, porque é mesmo pouco profissional (a prática faz a perfeição e não estudo jornalismo dreads). A transcrição não é perfeita, mas manteve completamente o sentido das palavras de Raf Tag.


                                          

Provisórios: Falando sobre o grupo: explica o vosso nome, como começaram, etc.

Raf Tag: Epah, eu conheço o Samurai, ..., vai fazer 2 anos em Novembro deste ano (2002), e o grupo vai fazer também práticamente em Novembro, a gente conheceu-se e decidiu logo formar o grupo. O primeiro nome do grupo foi Kookin Brainz e a gente mudou o nome do grupo há um ano. O nome (Ishing) foi dado pelo Chuno da Infinite Crew e depois decidiu-se mudar a maneira como escrevíamos Iching porq o que eu estava a escrever não tinha muito a ver com a história do livro (como nos foi dito no Workshop do ano passado por DJ Samurai, ISHING foi o primeiro livro da história da humanidade) e então tiramos o "C" de ICHING e pusemos um "S" e dei um significado às iniciais: Insanidade Social Hoje Inspira Náuseas Gramaticais que é mesmo naquela de vomitar rimas.

O grupo é assim um bocado virado pra Horrorcore (??)

Provisórios: E há quanto tempo estão vocês ligados ao Hip-Hop individualmente?

Raf Tag: O Samurai, segundo o que se conta está desde 1987 e eu, sinceramente, comecei a ouvir Rap a sério em 1993 mas comecei a cantar em 1999 num grupo chamado Double Face Cache (espero que esteja bem escrito).

A intenção do grupo não é lançar muita mensagem, é fazer uma cena pura que vem do coração e eu curto muito de filmes de terror e Hip-Hop, tás a ver, e eu curto misturar os mambos, minha nganza é mesmo essa...

Prov: Ya pq eu já ouvi a opinião de alguem sobre os teus sons, e ele disse q são tipo feitiçarias e o caraças...

Uns tantos risos rolaram por ali e RefKon 100 Alpied (+ conhecido como MC Laton) deu umas dicas.

Refkon 100 Alpied: é assim, eu antes de conhecer o Raf, eu só ouvia falar de um ui q rompe muito, o rei do rompimento, muito freestyle e rompe bué de gajos e diziam sempre: "ah, ele é bué galáctico", e galáctico é o termo utilizado pra dizer... Quem chama de galáctico a outra pessoa, não é ignorante, mas tem outra perspectiva das coisas porq epah... o mundo é composto pelo mambo terreno e também o universo, tudo faz parte do mundo e só porq um gajo as vezes da dicas do tipo: elevação e falar na lua ..."ah pq esse é galáctico, é lunático e não tem nada na cabeça"... mas voltando aos casos de feitiçaria; ele já disse que gosta das cenas de sangue e mambos de terror e etc e a questão é essa, juntar esses artifícios, juntar o terror pra fazer uma crítica social pq... é uma coisa dele, quem conhece o Raf sabe que ele curte de sangue, mambos vermelhos, caveiras essas coisas do género e ele é assim e por exemplo, eu vez de eu dizer que o Presidente é gatuno e não sei o quê, eu posso dizer ele é um coveiro que está a enterrar crianças e decapitar os velhos. É apenas um artifício que ele está a utilizar, é como ele vê a cena, não é por ser galáctico ou feitiçaria ou visita o inferno com a língua, são só boatos.

Raf: É akela base tu tas a ver, por exemplo eu uso mto nos meus termos, chamar de "mortos-vivos". O que é um morto-vivo? É uma pessoa que não tem vida, não faz nada pela vida, não faz nada pelos outros, o que é isso senão um morto? não tem acção. Tu basta não teres acção pra seres um morto-vivo, é o termo que eu uso. Muitas vezes eu em vez de chamar de políticos, chamo abutres. O que é o abutre? é uma ave oportunista que come os cadáveres. E o que estes são se se estão a aproveitar de toda gente? são abutres. Epah, e os fake MC's pra mim são baratas que estão aki pra ser esmagadas.

Prov: E nunca acabam...

Raf: Ya nunca acabam, tão aki desde os tempos pré-históricos dread... Epah, feitiçaria, eu já li alguns livros de feitiçaria mas isso não tem nada a ver. Acho que toda gente se sente um bocado interessada no desconhecido, acho que isso faz parte da natureza humana, porq há pessoas que se limitam a conhecer superficialmente as pessoas e eu preocupo-me mais conhecer interiormente, saber o que se passa com essa pessoa dentro. E eu curto dar essas dicas nas minhas letras porq eu estou interessado nas minhas dicas + dentro do q fora. Porq hip-hop não é uma dica pra se viver por fora e pra se viver por dentro e eu faço esse meu género de música e muita gente diz "hip-hop é revolucionário tens que lançar mensagem social", e eu acho q mtas vezes lançar esse mambo de msg social é uma faca de dois gumes pq está-se sempre a apontar um problema e não estás a resolver e acho q quando um dia eu for apontar algum problema eu tenho q dar uma luz ao fundo do túnel pra saberem como se safar desse mambo e nesse momento eu não me sinto preparado, e eu pra criticar o estado, eu tenho que ter soluções para meter o país a andar no bom caminho eu como não estou preparado pra isso eu prefiro não me meter onde não sou chamado, isso é hipocrisia de certas pessoas, pq epah... a revolução não é feita de barriga vazia e é mesmo hipocrisia na parte de certas pessoas. E eu faço no hip-hop aquilo que me vem na alma. E eu digo mesmo, eu não represento o hip-hop como muita gente faz pelo povo, eu represento o hip-hop acima de tudo por mim porq eu faço Rap com o um sentimento pra expressar aquilo que vai dentro de mim, eu faço aquilo que eu sinto e a dica é essa... o Hip-Hop pra mim é tudo é imaginação, é amor, é guerra, paz, é tudo isso e eu nesse mambo do Ishing não tive muita oportunidade de me expressar, porq o hip-hop pra mim é a batalha, eu curto muito batalha verbal.

Prov: Rei do rompimento irrompivel como dizem...

Raf: Ya é sempre aquela base, eu gosto mesmo de romper dread, romper mesmo, é a minha vida...

Prov: Fala um coxe do título do disco "A Ciphra da Lua Negra".

Raf: O título é a Ciphra da Lua Negra. A ciphra são códigos numéricos, tanto q tu podes ver na capa do disco, tem uns códigos numéricos, a ciphra é um código, queres dizer algo então encriptas a mensagem, Lua Negra, nós na palavra Luanda, tiramos o "nda" e metemos "Negra" pra dar um termo mais horrorcore, mais de terror, por isso é q em vez de ficar Luanda ficou Lua Negra, nós então lançamos o segredo da Lua Negra, tás a ver, que é o ISHING, um grupo underground que ninguém conhece...que ninguem conhece entre aspas porq tem, digamos duas das pessoas mais olhadas na cidade, que são o DJ Samurai e eu. Foi unir o útil ao agradável. O Samurai é um gajo que de uma certa forma pensa como eu e tava mesmo com uma vontade de lançar um mambo tal como eu, porq já tinha participado em bué de grupos, mas eu não sei, talvez pela minha nganza de romper nunca ninguem teve a coragem de ir em frente comigo, o Samurai disse epah puto... vamos fazer aí a nossa merda, e foi mesmo assim naquela base.

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