Hemoglobina
Fogo Cruzado (Mixtape)

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01. Intro
02. Facínoras
03. Pragas
04. Fia e Buta
05. Aliança Subterrânea
06. Vado
07. Sétima Arte
08. Mata frakuxz & VRZ
09. No Mercy
10. Pespegar + Mente Profunda + Jucelino
11. Ruzeno
12. Enú
13. Rede Tribal
14. Duvula_M
15. Ibrah
16. Interlúdio
17.Aliança Subterrânea
18. VRZ & Fidbek
19. Hemoglobina
20. MC Laton & X-Perma
21. Bob da Rage Sense
22. Patriarca
23. Mano António
24. Abdiel & Pyrackinideo
25. M
26. Afro-Genesis
27. Satânico MC
28. Denéxl

Antes de começar a sirurgia pela mixtape, uma palavra de reconhecimento aos Hemoglobina é devida, porque diga-se em abono da verdade que estes dois rapazes fizeram pelo hip hop nacional (em termos de pôr diskos na rua) nos dois últimos anos, mais do que a maioria dos artistas hip hop da banda desde que este movimento se originou. A maior parte vem prometendo, e a verdade é que continuamos a espera de singles e álbuns que até hoje continuam a ser "preparados".

Partindo para a acção, um misto de alegria e tristeza em doses equivalentes, envolvem-me ao ouvir a mixtape. Começa-se a notar cada vez com mais evidência no separatismo existente na banda em termos de citadinos e periféricos. Em parte isto é devido à diferença em termos de mensagem que uns e outros transmitem, mas com o passar do tempo a animosidade tem vindo a aumentar porque uns falam mal dos outros. Mas como há rappers maus (maus de NÃO BONS) tanto de um lado como de outro, esta mixtape acaba por estar condenada a apanhar alguma poeira nas prateleiras, visto que de 28 músikas, mais de metade são lixo verbal e contaminação sonóra dos nossos artistas citadinos.

Afinal o que se passa com a nossa geração hip hop? Estamos a ultrapassar uma fase que me deixa um tanto ao quanto assustado. A "largada" (flow) está cada vez melhor, ao ponto de já chegarmos ao ponto de curtir um som porque o rapper está a vocar de uma maneira muito forte (a mesma razão que fez a maior parte de nós começar a curtir hip hop quando não entendíamos a língua inglesa), mas será que é só disso que se faz um mc? Quando reparo que a linhagem de temas e maneira de abordá-los é idêntica entre quase a totalidade dos rappers na mixtape, apercebo-me que a nova moda na banda é serem abstractos, e que todos soam exactamente ao último mc que cantou, constantado-se assim que não passam de plágios uns dos outros, e tristemente o admito plágios do FUSE.

A minha missão era analisar o disco em termos práticos e não psicológicos, mas acaba por estar tudo interligado, por isso não pude evitá-lo. Os nomes que eu não mencionar podem considerar-se na lista de não eleitos para tocarem quando voltar a pôr o fogo cruzado na minha aparelhagem, e portanto (como é hábito no angolano) fiquem ofendidos se bem entenderem.

Temos talentos promissores na mixtape, ninguém maior ou melhor que o outro, mas todos muito promissores, e se derem os passos certos, poderão vir a tornar-se em nomes obrigatórios na nossa pequena comunidade cultural. A mixtape começa muito bem com os Facínoras com uma "largada" por parte de Sandro Briffi que o diferencia dos "gajos chateados com o microfone", e também com uma boa dicção compreendendo-se bem as suas palavras. "Sentou" bem no "biti" (beat). Os Pragas continuam a segurar a mixtape num nível audível, indo a minha preferência para o segundo membro Máscara Negra com algumas estigas que conseguem fazer rir. Um dos momentos mais fortes da mixtape, vem no som a seguir, com dois jovens cujos nomes me eram completamente desconhecidos [Fia e Buta], e cujo talento espreita ameaçando sair a qualquer momento (também pode ser que tenha sido um momento de inspiração que não se repetirá muito mais vezes, mas prefiro acreditar na primeira). Também variaram por momentos o tema de "falsos, falsos, falsos, falsos, falsos, falsos" que marcam o resto da mixtape e falam de uma maneira inovadora no governo e consequências da sua governação: "Luanda putaria da capital/ onde a falta se segurança e higiéne suscitam ao terrorismo global". Será preciso dizer mais? Estarei atento aos próximos movimentos destes dois rapazes. Apartir daqui a mixtape perde o interesse (com uma ténue excepção proporcionada pelo Tempestade Lenta dos Aliança Subterrânea, ke tem algumas dikas fortes) que só volta a subir uns níveis quando chego ao número 15 com o Ibrah que pinta um kuadro da cena hip hop, comparando os mc’s a gladiadores, e perguntando aonde estamos, todos nós que alimentamos o movimento, aonde estão os graffiteiros, aonde estão os dj’s, e acabando o seu discurso perguntando para onde vamos, num recital que para minha alegria mostra uma grande evolução desde a sua última prova como mc. VRZ  e Fidbek fazem uma dedicação a banda e participam de boa vontade nesta mixtape, sempre fazendo referência a sua cena local. Isto é mais evidente quando o Fidbek enfrenta os artistas da sua cidade: "vocês falam muito mas só dentro do Porto", provando que rivalidades e desentendimentos existem em todo o sítio e que mesmo sendo do Porto, consegue ser suficientemente sóbrio para se afastar de quem se acha melhor que ele e não pôr os artistas da sua cidade no pedestal (Mindagap, Dealema, LCR, Matozoo entre outros são artistas portuenses). No som 19 os anfitriões marcam finalmente a sua presença e mais uma vez o Contrário obriga-nos a avançar o som freneticamente em busca dos segundos do Denéxl que está na lista daqueles que conseguem por um som em cima só com a sua largada (que no entanto precisa de ser polida até atingir a perfeição, a crítica feita ao Carnes mantém-se), e mesmo sendo incompreensível o seu conteúdo por vezes (não será este o caso), contínua a ser agradável de ouvir. Mais 3 sons são dignos do laser do meu leitor de cd’s e eles são o 24, o 27 e o 28. Sobre o último não há mais nada a acrescentar visto ser mais uma vez o Denéxl vocando sobre o "Bottle of Humans" do Sole, num estilo calmo mas bem ao seu jeito. O Abdiel e o Pyrackinideo proporcionam-nos alguns momentos de som tolerável mostrando que também são promessas para o nosso hip hop, mas o Abdiel mete a pata na poça no fim com a sua mania de rimas encadeadas com uma lamentável de sequências de acções e suas respectivas negações (tocar o intocável entre outras), isso foi medíocre. O último elemento dos Poly-Valentes também mostra que tem imaginação e creatividade, mas menos bem que o antecessor.

Uma nota positiva para os nossos artistas (mesmo os que não foram mencionados): em termos de "largada" estamos muito melhores que os tugas que começam a entrar na monotonia e falta de inspiração. Por isso, tentem isolar-se de sentimentos de superioridade entre vocês e concentrem-se mais em crescer, evoluir e serem a cada dia mais creativos, porque podemos ir muito mais longe. Paz para todos.

4/10

Ikonoklasta


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